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Bolsonaristas se reúnem na Paulista em ato promovido pelo ex-presidente para pressionar STF

A expectativa da organização é de que os discursos foquem mais na figura do próprio Bolsonaro do que em defesa dos acusados nos ataques de 8 de Janeiro

Manifestantes estão na avenida Paulista, em São Paulo, no início da tarde deste domingo (29), para participar de um ato chamado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em sua defesa diante do avanço do julgamento da trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal).

Apesar do clamor do núcleo mais próximo de Bolsonaro por um indulto ou anistia ao ex-presidente, o ato foi divulgado sob um mote mais genérico de “justiça já”, deixando em aberto o que pode ser reivindicado no palanque montado em frente ao Masp, onde os manifestantes começam a se aglomerar.

A expectativa da organização é de que os discursos foquem mais na figura do próprio Bolsonaro do que em defesa dos acusados nos ataques de 8 de Janeiro, diferentemente do ultimo ato no local, no dia 6 de abril. Recentemente, o ex-presidente chamou de “malucos” aqueles que pediam por intervenção militar após a sua derrota na eleição de 2022.

O ato é organizado pelo pastor Silas Malafaia e foi chamado por Bolsonaro e seu entorno.

Quatro governadores confirmaram presença: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Cláudio Castro (PL-RJ) e Jorginho Mello (PL-SC). Os dois primeiros são vistos como possíveis presidenciáveis no próximo ano. Publicamente, o governador de São Paulo nega e se diz pré-candidato à reeleição no estado.

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também confirmado no ano, colocou o indulto como uma condição para o apoio do pai em 2026. Neste mês, em entrevista à Folha, ele declarou que o candidato deve brigar com o STF por isso, se necessário, incluindo até “o uso da força”.

O deputado Marco Feliciano (PL-SP) e o senador Marcos Rogério (PL-RO) são alguns dos aliados de Bolsonaro reunidos no Tivoli Mofarrej, hotel vizinho à avenida Paulista.

Bolsonaro está no Palácio dos Bandeirantes com Tarcísio e outros governadores aliados. O plano é que todos se encontrem no hotel, onde está hospedado Silas Malafaia. De lá, saíram em grupo para o trio elétrico.

Feliciano disse torcer para “que o povo venha, que o povo não desista”, e a Paulista encha. “Nós temos razão de estar aqui, temos a questão do 8 de janeiro, da anistia, queremos o presidente Bolsonaro elegível em 2026.”

O senador Magno Malta (PL-ES) contemporizou declaração do colega Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Folha, sobre um possível “uso da força” contra o STF caso a direita eleja um presidente em 2026. “Nós não temos força, acho que o Brasil hoje, com as Forças Armadas que tem, não tem munição para dez minutos de… Vai usar a força de quem?”

Fez na sequência uma analogia com um rato encontrado em casa. O morador tenta tapar os buracos, “bota mais cimento”, mas o roedor sempre aparece de novo.

“Você não vai conseguir [se livrar do rato] fechando o buraco, você só vai conseguir se matar o rato. E, trazendo para nós, o único veneno que nós dispomos é o voto. Então essa força [a qual Flávio se referiu] é trabalhar com força para poder eleger os nossos.”

Marcos Rogério definiu o ato do dia como “acima de ideologias e partidos”, e sobretudo “um grito de liberdade”.

A anistia para presos por envolvimento nos ataques de 8 de janeiro em Brasília também está em pauta.

Mas também circulam críticas à ministra do STF Carmen Lúcia, que na última semana falou que não se pode permitir uma “ágora em que haja 213 milhões de pequenos tiranos soberanos”. Estava no meio de seu voto favorável à responsabilidade das plataformas pelo conteúdo divulgado por terceiros.

A frase causou indisposição com a direita bolsonarista. Marcos Rogério, por exemplo, afirmou que “parece muito errado” o tribunal tenta “disciplinar o que que é neutralidade de rede”. Magno Malta foi mais feroz no ataque: “Carmen Lúcia foi porta-voz da maior sandice que já pude ouvir em minha vida”.

Manifestantes começam a se aglomerar para a manifestação com farto material em que os EUA de Donald Trump é coprotagonista. “O bem venceu, porque é maior”, diz um que exalta “Bolsotrump” e “Trumponaro”.

Outro traz uma ilustração do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que se licenciou da Câmara e hoje mora nos EUA, alegando ser alvo de perseguição no país. Ali estavam escritos “fé em Deus” e um obrigado (“thank you very much”) ao presidente americano.

Além de Bolsonaro, Malafaia, Flávio e Tarcísio, devem discursar neste domingo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os deputados federais do PL Sóstenes Cavalcante (RJ), Nikolas Ferreira (MG), Gustavo Gayer (GO) e Caroline De Toni (SC), Magno Malta (PL-ES) e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

O processo no STF sobre o núcleo principal da trama golpista está prestes a entrar na reta final. Os réus e testemunhas já foram ouvidos e o ministro Alexandre de Moraes abriu prazo para o Ministério Público apresentar suas alegações finais. Posteriormente, os réus também terão a oportunidade de apresentar seus argumentos pela última vez antes do julgamento. Caso seja condenado, a pena do ex-presidente pode passar de 40 anos de prisão.

A expectativa no Supremo é que o caso esteja pronto para ir a julgamento no início de setembro.

Apesar de negar ter articulado um golpe, enquanto presidente Bolsonaro acumulou uma série de declarações golpistas às claras, provocou crises entre os Poderes, colocou em xeque a realização das eleições de 2022 e ameaçou não cumprir decisões do STF.

Após a derrota para Lula, incentivou a criação e a manutenção dos acampamentos golpistas que se alastraram pelo país e deram origem aos ataques do 8 de Janeiro. No mesmo período, como ele mesmo admitiu publicamente, reuniu-se com militares e assessores próximos para discutir formas de intervir no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e anular as eleições.

Saudosista da ditadura militar e de seus métodos antidemocráticos e de tortura, foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral. Hoje está inelegível ao menos até 2030.

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