O senador Jorge Kajuru (PSB) apresentou requerimento para que Caiado seja convidado a comparecer à comissão. O governador confirmou que pretende “mostrar os resultados alcançados pelo estado”

A recém-instalada CPI do Crime Organizado no Senado Federal, que investigará o avanço de facções criminosas e possíveis falhas nas políticas de segurança pública, provocou a primeira turbulência política antes mesmo de iniciar formalmente os depoimentos. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), afirmou nesta quarta-feira (05) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria tentado deixar Goiás fora do debate, apesar do estado ser, segundo ele, referência nacional em Segurança Pública.
A tensão foi amenizada com a atuação do senador goiano Jorge Kajuru (PSB), que apresentou requerimento para que Caiado seja convidado a comparecer à comissão. O governador confirmou que pretende participar e “mostrar os resultados alcançados pelo estado” no combate ao crime organizado.
“A preocupação do governo do Lula em querer me excluir de um debate que Goiás é referência nacional ficou clara. Fizeram uma triagem para não querer ouvir a voz de Goiás. Mas o senador Kajuru já fez o requerimento, e vou lá mostrar os resultados de Goiás, mostrar também que a Constituição é a mesma, as leis são as mesmas — e aqui, em Goiás, bandido não se cria”, afirmou Caiado em entrevista.
A CPI do Crime Organizado foi instalada oficialmente nesta terça-feira (4) no Senado e deve investigar não apenas a expansão de facções criminosas pelo país, mas também o envolvimento de agentes públicos e possíveis omissões nas políticas de segurança em nível estadual e federal. A criação da comissão ocorre em um momento de forte pressão política, após megaoperação policial no Rio de Janeiro deixar 121 mortos, reacendendo o debate sobre o papel das forças de segurança e o controle territorial de milícias e facções.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) foi eleito presidente da CPI, com 6 votos favoráveis e 5 contrários, enquanto a relatoria ficou a cargo de Alessandro Vieira (MDB-SE). O placar apertado refletiu a disputa intensa entre governistas e oposição pela condução dos trabalhos. O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) foi indicado para a vice-presidência, após desistência de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que chegou a ser cotado para a presidência a pedido do bloco oposicionista liderado pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
O resultado da votação foi recebido com alívio pelo Palácio do Planalto, que temia o controle oposicionista de uma das comissões mais sensíveis de 2025, em pleno período pré-eleitoral. Com Contarato no comando, o governo deve manter articulação mais previsível no Senado e tentar conter eventuais desgastes ligados à segurança pública — uma pauta que vem ganhando centralidade no discurso político.
Ainda não há data definida para o comparecimento de Caiado e dos demais governadores e ministros que serão convocados.
Nos bastidores, aliados de Caiado avaliam que sua ida à CPI pode ampliar sua projeção nacional, reforçando a imagem de gestor firme no combate à criminalidade — uma vitrine importante para o governador, que vem sendo citado em discussões sobre a sucessão presidencial de 2026. O próprio Caiado, entretanto, evita tratar a questão em tom eleitoral e afirma que sua participação será “técnica” e voltada à contribuição institucional.



