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Marconi vira alvo de CPI por supostos desvios milionários em obras do Jockey Club paulista

Câmara de São Paulo aprovou, nesta quarta-feira (29), a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostos desvios de recursos públicos que somam R$ 83,6 milhões

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, nesta quarta-feira (29), a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar supostos desvios de recursos públicos que somam R$ 83,6 milhões destinados ao restauro do Jockey Club da capital. O nome do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), surge no centro da apuração após revelação do UOL que aponta o uso irregular de valores da Lei Rouanet (R$ 22,4 milhões) e de recursos municipais (R$ 61,2 milhões) em operações ligadas a empresas de familiares e aliados políticos do tucano.

A decisão da Câmara ocorre em meio ao agravamento das denúncias de irregularidades envolvendo o uso de incentivos fiscais e a gestão dos débitos tributários do Jockey. O pedido de investigação foi apresentado pelo vereador Gilberto Nascimento (PL), que também presidirá a CPI. O colegiado, que terá nove membros, busca apurar indícios de omissão do Poder Públicoalienação de potencial construtivo e suposta improbidade administrativa na condução dos projetos de restauro do clube. Ainda não há data definida para a instalação formal da comissão.

R$ 83,6 milhões sob suspeita

De acordo com os documentos revelados pela reportagem do UOL, o Jockey Club teria movimentado valores autorizados pelo Ministério da Cultura e pela Prefeitura de São Paulo sob justificativas agora contestadas. O montante incluiu despesas classificadas como administrativas — entre elas, compras em farmáciasjantares em restaurantes luxuosos e serviços prestados por empresas fantasmas.

Um dos principais eixos da investigação é a produtora cultural Elysium, que em 2020 se tornou a procuradora do Jockey Club. A organização, conforme apurado, foi transformada em Organização Social de Cultura (OSC) em 2014, por decreto assinado pelo próprio Marconi Perillo, então governador de Goiás. Desde então, expandiu suas operações de forma acelerada, chegando a obter quatro aprovações simultâneas da Lei Rouanet em 2025 – todas vinculadas aos projetos do Jockey.

Relatórios analisados indicam que a Elysium coordenava a contratação de fornecedores e centralizava as transações financeiras, algumas das quais desembocavam em empresas ligadas à família de Débora Perillo, prima do ex-governador.

Notas fiscais duvidosas e empresas inalcançáveis

Entre as inconsistências apontadas, a prefeitura verifica pagamentos que somam R$ 20,4 milhões a três fornecedores. A Ambiência Arquitetura e Restauro, citada como receptora de R$ 1 milhão, negou ter executado serviços nesse valor. Já a Construtora Vidal, apontada como responsável por mais de R$ 11 milhões em obras, simplesmente não foi localizada nos endereços fornecidos — um deles, curiosamente, um apartamento residencial no Itaim Bibi cujo condomínio de R$ 1.735 foi lançado como despesa do projeto.

Outra empresa mencionada, a Construtora Biapó, confirmou ter prestado serviços, mas não revelou o valor. Além disso, o cruzamento de dados revelou que algumas notas fiscais apresentadas para justificar recursos federais da Rouanettambém foram usadas** para comprovar o uso de verbas municipais — prática vedada pela legislação.

Despesas pessoais e justificativas frágeis

A documentação obtida mostra gastos como um jantar de R$ 803 no restaurante Osakacompras de medicamentos e bebidas e até dedetização e pagamento de IPTU em Goiânia. Questionada, a Elysium justificou os valores como “despesas administrativas permitidas pela lei”, alegando que estavam dentro do limite de 15%. O Ministério da Cultura, porém, é categórico: bebidas alcoólicas e gastos fora do projeto são proibidos e não podem ser reembolsados pelo erário.

Defesa e reação política

Procurado pelo UOLMarconi Perillo negou categoricamente qualquer envolvimento na escolha da Elysium ou destinação dos valores. Disse conhecer Débora Perillo “apenas de vista”, e classificou como “leviandade absurda” as associações de seu nome ao caso. Posteriormente, em nota enviada ao Jornal Opção, afirmou que a reportagem do UOL foi “desonesta” e que a suposta ligação com as empresas “se resume a coincidências”, por serem todas de Goiás e por compartilharem o mesmo sobrenome.

Jockey Club de São Paulo, por sua vez, afirmou em comunicado que seus processos de prestação de contas estão “em conformidade com as exigências legais” e acusou “interesses políticos e patrimoniais” de tentar desvalorizar o imóvel para facilitar uma eventual desapropriação. Já a Elysium, em nota, reafirmou a legalidade de todas as suas operações e negou atuar com recursos do TDC (Transferência do Direito de Construir).

Obras inacabadas e cenário de abandono

Apesar das cifras milionárias, o quadro que o visitante encontra no hipódromo é o oposto do prometido nos relatórios oficiais. Enquanto o site do Jockey exibe fotos de salões restaurados e tribunas revitalizadas, grandes áreas do complexo permanecem abandonadas, com estruturas metálicas expostas, infiltrações e obras paradas desde 2023.

Com a criação da CPI, vereadores planejam convocar gestores do cluberepresentantes da Elysium e autoridades municipais para depor. O avanço das apurações promete testar a transparência do uso de incentivos fiscais e culturais na cidade — e recoloca o nome de Marconi Perillo, um dos principais quadros do PSDB, no centro de mais uma crise política e de imagem.

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