Bem-vindo – 27/07/2024 01:08
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Estoque do Hemocentro tem deficit

Mesmo com o aumento na quantidade de doações do ano passado para cá, o estoque de sangue de três tipos está em baixa no Hemocentro de Brasília. No primeiro semestre deste ano, as transfusões para pacientes aumentaram de 34,3 mil para 36,6 mil (6,6%), sobretudo devido à retomada das cirurgias eletivas na rede pública de saúde. Com a alta na demanda, a fundação precisa de mais doadores, principalmente daqueles com fator Rh negativo — componente proteico dos glóbulos vermelhos.

Um dos motivos para a diminuição desse grupo específico tem a ver com o fato de ele ser menos comum entre a população, mas transfundido para mais pessoas — um sangue com fator negativo pode ser recebido por alguém com fator positivo, mas o contrário não é possível. A Fundação Hemocentro informou que o movimento menor de doadores nas últimas semanas descompensou os estoques. “Algumas reservas podem baixar mais rápido pela demanda da rede. A média de 19 a 22 de julho foi de 116 doações por dia, enquanto a das outras semanas deste mês ficou em 150. Em junho, o índice foi de 186, a melhor média de 2021”, informou a instituição.

A empresária Lorena Novaes, 43 anos, está com o marido, Jarbas Ari, 51, internado por covid-19 desde 17 de junho. Em fase de reabilitação na unidade de terapia intensiva (UTI), o paciente depende de transfusões. “Ele é O positivo e recebeu duas bolsas de sangue em um só dia. Fizemos uma campanha junto ao Hemocentro e publicamos nas redes sociais. Ver a mobilização das pessoas trouxe muita paz, porque mostrou que existe muita gente que se importa”, comenta. Jarbas Ari teve 100% do pulmão comprometido e ficou 21 dias em coma induzido. “Nossa filha de 5 anos chora todos os dias, perguntando quando vamos buscá-lo no hospital”, completa Lorena.

O ato de solidariedade da população ajudou a salvar a vida de Kelson Miranda, 28. Diagnosticado com leucemia aos 12, o criador de conteúdo passou por um transplante de medula óssea em julho de 2019. Após a adequação do corpo, de janeiro a março do ano seguinte, ele recebeu doações de sangue, que o auxiliaram na recuperação. “No decorrer do processo, recebi transfusões de amigos e fizemos uma campanha nas redes sociais junto ao Hemocentro. Quando a gente recebe, o corpo fabrica as hemácias, o que dá incentivo ao quadro de saúde. O corpo demora de 15 a 30 dias para pegar (se adequar à) medula. Não fosse essa ajuda, o tempo seria maior”, relata.

Na primeira metade deste ano em relação ao mesmo período de 2020, a quantidade de doações subiu 8,5% (de 22,8 mil para 24,7 mil). A média anual é de 50 mil. Uma das pessoas que contribuiu nesse período foi Henrique Gaspar Barros, 30. A mais recente visita dele ao Hemocentro de Brasília ocorreu em 10 de maio. “É uma questão de fazer bem ao próximo. Eu me comprometi a fazer isso, no mínimo, de três em três meses”, relata o empresário e morador de Taguatinga Norte.

O estudante de engenharia civil Calebe Ferreira, 21, abraçou o hábito aos 18 anos, por influência de amigos e familiares. Desde então, doa de três a quatro vezes por ano. A prática também tem relação com um momento de 2005, em que o jovem viu o pai, Afonso Beserra, 54, precisar de uma transfusão antes de uma cirurgia. “A maior dificuldade foi achar alguém com o tipo sanguíneo compatível na família. À época, o dele estava em falta, e era o mesmo do meu”, recorda-se o rapaz, que ainda não tinha idade para ajudar.

Apesar da menor quantidade dos tipos A, B e O negativo nos estoques, os demais grupos estão em nível regular ou adequado. Ainda assim, doações são sempre bem-vindas. A Fundação Hemocentro de Brasília informou que a alta nas transfusões também tem relação com o atendimento a pacientes com doenças nas hemoglobinas ou nos rins, além daqueles em tratamento oncológico.

O vigilante Paulo Eduardo Pinho, 55, sempre faz doações de sangue no começo do ano. Essa história, porém, começou em 1985, ano em que serviu no Exército Brasileiro. “Gostei e viciei. É importante, porque salva vidas. Já doei para mães de amigos que precisavam fazer cirurgia e, graças a isso, conseguiram voltar para casa”, orgulha-se o morador de Ceilândia Norte.

Distribuição

A transfusão para pacientes ocorre de acordo com o quadro clínico. Uma bolsa de sangue contém quatro componentes que podem ser transfundidos juntos ou separadamente, a depender do caso. São eles: hemácias, plaquetas, plasma e crioprecipitado. Com isso, é possível que a doação de uma pessoa ajude mais de um receptor.

Resultados

Doações por faixa etária em 2020

Menores de 18 anos — 1%

8 a 29 anos — 41%

30 a 39 anos — 28,3%

40 a 49 anos — 19%

50 a 60 anos — 8,8%

Maiores de 60 anos — 1%